Chega mais perto e contempla as palavras.Cada uma tem mil faces secretas sob a face neutra e te pergunta, sem interesse pela resposta, pobre ou terrível, que lhe deres: Trouxeste a chave?" Fragmento do poema "Procura da poesia") Carlos Drummond de Andrade
segunda-feira, 6 de dezembro de 2010
Minhas primeiras reflexões - Bolsista: Jocelma Boto Silva
No período de maio a outubro de dois mil e dez, vários momentos foram relevantes para mim enquanto pesquisadora, enquanto aluna e enquanto futura professora. Posso destacar alguns desses momentos levando em conta o sentimento que despertaram em mim.O primeiro momento marcante aconteceu no dia três de setembro desse mesmo ano, na nossa primeira visita à escola Ridalava Figueredo Correa. A supervisora já havia nos apresentado a realidade escolar, as suas dependências e o contexto social dos alunos, mesmo assim, para mim não deixou de ser um contato com o novo e com o desconhecido. A escola chamou a minha atenção, a princípio, por não apresentar na parte exterior a aparência tradicional de uma escola. Em seguida, assim que entrei na escola, outro motivo me instigou, deparei-me com o pátio e muitas crianças correndo, gritando, dançando, um som alto, enfim, era a hora do recreio. Senti naquele dia a mudança de posto que ocupo, sou aluna mas não do Ensino Fundamental ou Médio, e esse momento , o intervalo, para mim é visto atualmente de outra forma: uso para descansar e não para estar em plena agitação. Este momento me desafiou, tenho vontade de compreendê-lo mais, de pesquisar, de conhecê-lo sob um novo ângulo, levando em conta que eu também já vivi nesse momento nos meus tempos de colegial.Outra experiência significativa aconteceu no dia dezoito de outubro de dois mil e dez, data em que me propus a observar uma aula de Educação Física. A curiosidade por ver os alunos e entendê-los em estado de agitação me envolveu. Vê-los envolvidos em uma atividade educativa que lhes proporcionava movimentarem-se, correr, gritar, e ainda assim aprender possibilitou uma comparação com "o recreio" e com o ânimo desses alunos na sala de aula propriamente dita. Nesse sentido, gostaria de estudar o ânimo com que esses alunos vão para a sala de aula, em especial para assistirem às aulas de Português.
Valéria Pereira Silva de Novais - Impressões PIBID
Como bolsista deste programa, tenho sido beneficiada de diversas maneiras, primeiramente, aprendi conceitos novos e importantes, também tive o meu primeiro contato com a sala de aula, podendo aplicar um microprojeto e aprendendo assim, ser docente através da prática. Estou esperançosa para prosseguir na área da docência, auxiliando a aprendizagem da linguagem de alunos das escolas municipais, a partir de novas práticas metodológicas de educação, para tornar o ensino cada vez mais atraente ao aluno, e, assim, poder com eles não só ensinar, mas também aprender. Espero que os relatos feitos baseados na prática escolar cotidiana possam render textos científicos a fim de contribuir com a pesquisa educacional.
Impressões - Bolsista Mayara Ferraz Lopes
Já estou no PIBID há aproximadamente um semestre. Ao longo desse curto período aprendi muita coisa. Uma atividade que, sem dúvida, marcou bastante foi visitar a escola. Os quinze bolsistas do PIBID foram divididos em três grupos e cada um foi designado a uma escola. Eu e mais quatro colegas ficamos na "Escola Municipal Mozart Tanajura" que está situada no bairro Vila América. No inicio, ficamos com um pouco de receio porque a região é conhecida como uma das mais violentas da cidade. Porém, quando chegamos à escola, esse medo passou. Os alunos nos receberam muito bem, foram muito carinhosos. Reparamos que a escola era mais tranqüila do que a maioria das que a gente conhecia.
Primeiras reflexões - Bolsista Tauana Paixão
Sem dúvidas esse projeto é bastante enriquecedor, tanto para quem já é professor e atua em sala de aula, quanto para aqueles que ainda não tem experiência na área de educação. Sendo assim, o projeto em si superou minhas expectativas e demonstrou responsabilidade e compromisso com seus princípios.Um fator que considero importante para o bom andamento do PIBID é a relação grupal. Todos os bolsistas se relacionam muito bem e contamos com bons supervisores que possuem uma experiência que enriquece nossos encontros.Acreditamos que a próxima fase do projeto será ainda melhor do que esta. Traçamos muitas metas e esperamos alcançá-las, visando sempre fazer desse projeto uma história de sucesso.
Primeiras reflexões - Bolsista Ana Paula Ramos Santos
Para nossa surpresa o deslumbre foi curto, pois ele foi substituído por espanto, já que a teoria está bem longe da prática realizada em nossos tempos nas escolas municipais. Após ouvirmos a teoria, tivemos que enfrentar a realidade da sala de aula como observadores, foi nesse momento que ocorreu o espanto. É muito difícil para um professor aplicar para seus alunos o que aprende na Universidade, uma vez que o dia a dia deles é cheio de contratempos. Com essa observação pudemos refletir como o projeto é muito importante para o nosso futuro profissional, já que estamos aprendendo a teoria e colocando-a em prática em seguida.
Contudo, não podemos ficar espantados para sempre, pois a arte de educar é linda até mesmo com os aborrecimentos que o cotidiano nos impõe. A nossa expectativa é que consigamos melhorar ao menos um pouco essa profissão um tanto quanto árdua que é a do ensino. O PIBID está sendo muito importante para nos mostrar as vias que podemos tomar, para que a nossa direção não se desvie desse percurso que é muito longo.
Para nossa surpresa o deslumbre foi curto, pois ele foi substituído por espanto, já que a teoria está bem longe da prática realizada em nossos tempos nas escolas municipais. Após ouvirmos a teoria, tivemos que enfrentar a realidade da sala de aula como observadores, foi nesse momento que ocorreu o espanto. É muito difícil para um professor aplicar para seus alunos o que aprende na Universidade, uma vez que o dia a dia deles é cheio de contratempos. Com essa observação pudemos refletir como o projeto é muito importante para o nosso futuro profissional, já que estamos aprendendo a teoria e colocando-a em prática em seguida.
Contudo, não podemos ficar espantados para sempre, pois a arte de educar é linda até mesmo com os aborrecimentos que o cotidiano nos impõe. A nossa expectativa é que consigamos melhorar ao menos um pouco essa profissão um tanto quanto árdua que é a do ensino. O PIBID está sendo muito importante para nos mostrar as vias que podemos tomar, para que a nossa direção não se desvie desse percurso que é muito longo. O projeto surgiu para orientar docentes a enxergar a realidade como ela é e se possível modificá-la na medida em que for possível. Queremos ser professores capazes de mudanças, para que de alguma maneira façamos a diferença em nosso trabalho. Se conseguirmos alcançar esse objetivo, tanto nós docentes quanto os discentes seremos pessoas melhores. Sabemos que não será fácil, pois são anos e anos de tradição, mas não podemos nos acomodar, temos que lutar para que a diferença não fique apenas no papel, mas que coloquemo-la em prática.
ANA PAULA RAMOS SANTOS.
Impressões - Bolsista Leidiane Dourado
Antes de tudo, acredito que toda e qualquer iniciativa de incentivo à docência é muito interessante. O PIBID está nos dando a oportunidade de irmos para a prática antes mesmo de estarmos formados. Este programa só veio a acrescentar melhorias à nossa docência, pois ele nos incentiva a refletir no sentido de investigar ativamente nossa própria prática pedagógica, a fim de que consigamos agir em sala de aula de forma competente, criativa e autônoma. Além disso, ele estimula nosso conhecimento teórico e prático, visto que essa interação teoria-prática se constitui como alicerce para a construção do conhecimento.
Atualmente, estamos elaborando um projeto para ser aplicado na "Escola José Mozart Tanajura". Será uma oficina de leitura de textos orais, escritos e digitais-imagéticos, visando despertar, nestes alunos, um interesse maior pela leitura, a partir de uma atividade diferente do cotidiano escolar, e será aplicado no dia quatro de dezembro. Terão como participantes os bolsistas de Letras e Matemática, os professores e outros funcionários da escola e os alunos do 6º ao 9º do ensino fundamental.
IMPRESSÕES - BOLSISTA ANDRÉIA PRADO LIMA
Quando nos inscrevemos para um projeto dentro da academia, num primeiro instante pensamos em que essa atitude poderá acrescentar nosso currículo acadêmico. No meio da já tão conturbada rotina de estudos, leituras, trabalhos, discussões não levamos em conta o "trabalho" que dará mais uma atividade. A fome de crescer nos impele.
O nome do projeto nos causava grande curiosidade: iniciação a docência? Como assim? E, com essa curiosidade nos olhos, fomos a cada encontro caminhando, passeando com os poros abertos absorvendo cada conhecimento. Índices, planilhas, termos técnicos, divergências entre o que diz a lei e a aplicabilidade, as experiências e vivências dos supervisores, a capacidade de percepção de cada componente, tudo isso foi aos poucos encharcando nosso raso conhecimento.
Uma iniciativa como essa dentro da universidade, que por vezes, foge do objetivo primordial de um curso de licenciatura, que é ensinar, nos coloca na linha de frente das discussões educacionais e a meu ver do grande questionamento que deveria permear os educadores atuais: ONDE FOI QUE EU ERREI?! Sim, alguém errou. Ao nos depararmos com a LDB, com os programas do Governo pela educação, com o sucesso de algumas poucas instituições, nossa maior dúvida é: como é que um aluno pode chegar a 5ª série do ensino fundamental sem conseguir ler? E o mais chocante para nós pibidianos (adjetivo pátrio dos que habitam no estado do PIBID, onde se pensa a educação e suas trilhas) não é apenas um aluno, um caso isolado, um detalhe numérico do interior esquecido do nordeste. Esse é um fato presente nas escolas de quase todo o Brasil, mais especificamente em Vitória da Conquista, em particular nas três escolas atendidas por nosso projeto - Letars VC. Os índices do IDEB que ficam abaixo da média nacional em algumas escolas do nosso estado, o próprio índice geral da educação nacional que é um dos piores do mundo. Um aluno que pode ser qualquer coisa, menos um ser pensante que consiga minimamente compreender o que lê e reproduzir em sua escrita o que aprende. É sem dúvida o que nos causa maior comoção.
Compreender essa realidade e tentar de alguma forma intervir para ajudar é nosso principal objetivo. Sei que ainda estamos engatinhando nesse processo. E quero compartilhar que esse primeiro momento de aplicação do microprojeto deve ser muitas vezes re-avaliado, pois que adianta ser apenas mais um? O que é essencial é fazer a diferença. Paulo Freire não escreveu utopias, ele pensava uma educação popular voltada tanto para a escolarização como para a formação da consciência, de um ser pensante e critico capaz de mudar sua própria existência. Só pela educação é que poderemos ver nossa sociedade melhor, com uma vida mais digna e justa. Ele diz que "Mudar é difícil, mas é possível", e justamente baseado nessa possibilidade, creio eu, é que estamos engajados nesse projeto, que com certeza foi aprovado pelos que pensam a educação nesse país justamente porque "ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para sua produção ou a sua construção", e a INICIAÇÃO À DOCÊNCIA seria exatamente uma preparação para fazer o diferente.
terça-feira, 30 de novembro de 2010
segunda-feira, 29 de novembro de 2010
Bolsista: Wellington Carvalho Fontes - Primeiras impressões do PIBID
PRIMEIRAS IMPRESSÕES
Bolsista: Wellington Carvalho FontesPrimeiras impressões do PIBID
Nesse sentido, foram apresentados textos teóricos e elementos áudios-visuais (filmes, slides) no intuito de auxiliar os orientandos no entendimento dos temas que balizam o referido projeto.
É relevante salientar, que este momento inicial foi crucial para todos os envolvidos na supradita atividade, pois para que haja sucesso nos momentos posteriores é fundamental que haja, efetivamente, um bom arcabouço teórico, afim de sustentar o que será aplicado na prática docente. Num momento seguinte, foram fomentados debates a respeito dos temas envolvendo educação e sociedade, que foram muito produtivos, no sentido de endossar o que foi apreendido com os textos teóricos. De fato ocorreram muitas divergências no grupo sobre os temas abordados, entretanto tais discussões enriqueceram de forma decisiva a criticidade dos bolsistas a cerca das práticas pedagógica. Vale enfatizar a boa mediação das orientadoras nesses debates. Posteriormente, pôde-se entrar nas finalidades do projeto, por assim dizer, pois os bolsistas foram orientados a iniciar uma espécie de “mini projeto”, juntamente com as coordenadoras, para serem aplicados nas supracitadas escolas, com o objetivo de complementar as atividades de leitura e escrita dos alunos, também iniciando os bolsistas na atividade docente, haja vista que esses tomariam a frente dos referidos projetos nas escolas.
Vale ressaltar, que os bolsistas e coordenadoras tanto idealizaram, quanto executaram o projeto nas instituições. Portanto, conclui-se que as primeiras etapas do projeto foram muito produtivas, tanto na parte teórica quanto na prática, sendo bem orientado e bem coordenado, e com previsão de bons resultados para o semestre seguinte.
quinta-feira, 25 de novembro de 2010
CONTO
UM ESTRANHO NO CANO
RODRIGO CIRIACO
Nem pisei e tive vontade de sair. Correndo. Era um ambiente pesado, as pessoas de mau humor, só reclamando. Eu não me sentia confortável ali. Sabia que era diferente. Nem melhor nem pior que ninguém. Diferente. Mas não teve jeito. O histórico da família, a dificuldade de adaptação a novos lugares, a necessidade do ganha-pão fizeram eu insistir.
Ali dentro acontecia de tudo. Uma hora parecia uma feira: pessoas gritando, falando ao mesmo tempo. Em outras um salão de beleza, no pior sentido: a fofoca rolando solta, cobra engolindo sapo e arrotando urubu. Um horror. Tinha dia que virava shopping: Boticário, Avon, Natura; roupa P, M, G, plano de saúde, clube de férias, conta em banco. Consumo, consumo, consumo.
Só não parecia um ambiente educativo.
O melhor era a recepção aos novos. Eu sempre ficava atento ao batismo. O que falariam desta vez? Parecia que havia um certo prazer em botar um pânico, um medinho. "Olha, foge enquanto é tempo." A maior parte dos professores estava de saco cheio de escola, de direção, de alunos. Aquilo era um cabide de emprego e pronto. Nada mais disso.
Lembro que eu cheguei junto com um outro rapaz. Novinho. Cara de bebê. Quase não tinha barba na cara. Eles ficaram todos ouriçados com a nova cria. "Quem é esse? Estagiário? Voluntário? Tá perdido, filho?" Quando descobriam que era professor... Chovia conselho:
- Rapaz, seja firme, ou eles montam em cima.
- Aquilo é uma jaula. Só tem animal.
- Eles sentem o seu medo no ar...
O melhor para os novatos era ficar quieto. E fim de papo. Mas e quando resolviam retrucar? "Os Idealistas". Aí ficava esquisito. A corporação se juntava, engrossava o caldo: - "Ah, você é novo, tá chegando agora. Quero ver daqui a dez anos. Quinze anos. Vinte. Aí a gente conversa." Tinha também a frase clássica né:
- Ah, eu já fui assim.
Eu me colocava alheio a todos estes discursos. Desde o dia que cheguei, fiquei no meu canto. Calado. Não me misturava muito aos outros. A minha preocupação era a minha sobrevivência. Só me preocupava com o meu. E tudo certo.
Sempre fui muito observador. Vez em quando, quando não estava na sala, passeava pela escola. Passava na biblioteca, laboratório. A primeira, sempre fechada. O segundo, vazio. Observava o trabalho da secretaria, a cozinha, os corredores. As tias da faxina não gostavam muito de mim não. Não sei por quê. Sempre que me viam era um alvoroço. Bem, pratos limpos, ninguém simpatizava muito comigo.
Apesar do que ouvia na saleta sobre os alunos, eu ia até eles. Devagar. Com respeito. De canto ouvia algumas das conversas, observava. E me assustava. Falavam que alguns professores viviam xingando eles de tranqueira, estrupício, marginal. Êh nóia. Ô raça! Isso num é gente! Que alguns deles já haviam sido beliscados, tomado tapa, cróqui, chacoalhão. Até apagador já tinha voado na cabeça de aluno. Eu não duvidava. Da sala dos professores eu via que eles não morriam de amores uns pelos outros.
Foi assim que eu soube da história do Zóinho.
O moleque era mirrado, usava um óculos de três graus. Fundo de garrafa. Tímido, sentava na terceira carteira, da parede. Só no intervalo abria a boca pra conversar, e só um pouquinho. A maioria dos professores nunca tinha ouvido a sua voz. Ele respondia a chamada levantando o braço. Muitos se perguntavam se ele tinha algum problema, se era surdo, mudo ou alguma coisa do tipo.
Foi por isso que eu fiquei indignado quando aconteceu aquele Conselho de Classe. Na sala, o Zóinho, a mãe, o diretor e oito professores. Aquilo não era uma reunião, era uma sessão não-oficial de linchamento. Os professores com a boca espumando, afinal, o menino tinha jogado uma carteira em cima do pé de um professor. O cara quebrou o pé, ia ficar não sei quantos dias afastado. Aquele menino tímido, que não fedia nem cheirava virou uma ameaça. Um barril de pólvora. O que vai acontecer na próxima explosão? Vai esfaquear um aluno? Vai dar tiro?
Só que eles não tinham falado o que aconteceu. O porquê dele ter feito tudo aquilo. Eu sabia. O Clóvis passou uma prova. O Robson, Zóinho, ficou vinte minutos com ela na mão. Colocou o nome e entregou. Em branco. O professor falou: - Olha, não é porque você tem essa cara de bobo e nunca fala nada que pode fazer isso. Vai, faz essa prova. Agora. E devolveu pra ele. Ele ficou ali, olhando a prova mais uns três minutos. Amassou e jogou no chão. O professor ficou irritado: "- Você tem algum problema? É débil mental? Vai fazer essa merda agora!" Pegou a prova do chão, desamassou e colocou na mesa do Zóinho. Vai. Escreve aí. Escreve! Ah, o garoto desembestou: fez picadinho da prova, saiu empurrando cadeira, colega, carteira, e pá: uma caiu no pé do professor. E deu nisso.
Só que eles não tinham falado o que aconteceu. O porquê dele ter feito tudo aquilo. Eu sabia. O Clóvis passou uma prova. O Robson, Zóinho, ficou vinte minutos com ela na mão. Colocou o nome e entregou. Em branco. O professor falou: - Olha, não é porque você tem essa cara de bobo e nunca fala nada que pode fazer isso. Vai, faz essa prova. Agora. E devolveu pra ele. Ele ficou ali, olhando a prova mais uns três minutos. Amassou e jogou no chão. O professor ficou irritado: "- Você tem algum problema? É débil mental? Vai fazer essa merda agora!" Pegou a prova do chão, desamassou e colocou na mesa do Zóinho. Vai. Escreve aí. Escreve! Ah, o garoto desembestou: fez picadinho da prova, saiu empurrando cadeira, colega, carteira, e pá: uma caiu no pé do professor. E deu nisso.
Tava todo mundo metendo o pau, dizendo barbaridades pra mãe. O moleque acuado, calado. Ninguém se referia ao fato de ele estar na quinta série e não saber ler e escrever. Caramba, será que eles não percebiam isso? Não levavam em consideração? Que o moleque tava triste, chateado, não conseguia desenvolver, e o professor ali, em cima, enchendo o saco? Bom, não dava mais pra eu ficar ali, omisso no meu canto. Precisava defendê-lo. Interrompi, pedi licença, comecei a falar. Expliquei que...
Expliquei nada. Nem comecei a falar uma professora arregalou os olhos, subiu em cima da mesa e soltou um grito. Foi um pega pa capá danado. Professora correndo, o diretor com a vassoura na mão. Até a mãe do Zóinho ficou assustada. Aí eu vi que tinha feito merda. O melhor era ter ficado quieto, em silêncio, como sempre fiz. Foi um tal de jogar cadeira, bater com a vassoura. Eu com as minhas patinhas ziguezagueando, desviando. Até que eu entrei pelo cano.
Bom, terminou a reunião né? Eles reviraram armário, trocaram cadeira, poltrona de lugar. Espalharam ratoeira, veneno. Só que eu era ligeiro. Desviava de tudo, tinha bom faro. Comia as sobras que caíam no chão no intervalo dos professores e voltava pro meu esconderijo.
Até ontem eu ainda podia ouvir eles condenado a minha presença, a minha atuação. Imagina, em pleno Conselho de Classe, eu fazer aquela intervenção? Absurdo. Estavam revoltados. Deve ser por isso que hoje quando eu acordei não consegui mais sair. Tinha essa massa fria, úmida, cobrindo o buraco do cano. É, acho que foi cimento que passaram por aqui.
Leia outros contos do livro Te Pego Lá Fora e os bastidores da matéria em
efeito-colateral.blogspot.com
Até ontem eu ainda podia ouvir eles condenado a minha presença, a minha atuação. Imagina, em pleno Conselho de Classe, eu fazer aquela intervenção? Absurdo. Estavam revoltados. Deve ser por isso que hoje quando eu acordei não consegui mais sair. Tinha essa massa fria, úmida, cobrindo o buraco do cano. É, acho que foi cimento que passaram por aqui.
Leia outros contos do livro Te Pego Lá Fora e os bastidores da matéria em
sexta-feira, 15 de outubro de 2010
entre os muros - cortes para fins didáticos
O filme "Entre os Muros da Escola" ocorre em sua grande maioria dentro de uma sala de aula em uma escola do subúrbio de Paris, mais especificamente nas aulas de literatura francesa. O professor encontra nessa sala, uma diversidade étnica muito grande, que gera atritos entre ambas as partes. De um lado, está o professor François Marin se esforçando muito em fazer com que seus alunos incorporem a literatura francesa. De outro lado, está um grupo de alunos entre treze e quinze anos, composto por negros africanos, asiáticos latino-americanos e franceses, pouco interessados em aprender uma literatura que não tem relação nenhuma com seus países de origem. Num certo momento do filme, alguns alunos questionam ao professor e dizem que aquela linguagem utilizada por ele não é a linguagem que eles buscam aprender. É interessante analisar que essa situação ocorre em nossas salas de aula. Muitas das vezes, levamos um conteúdo para sala e tentamos fazer com que nossos alunos aprendam, antes mesmo de mostrar a importância daquele conteúdo para a vida do nosso aluno. É de fundamental importância, que o professor faça algumas perguntas ao levar um conteúdo para sala de aula, tais como: o porquê e o para que, e não somente o que ensinar. O filme, realmente retrata uma sala de aula, nas múltiplas relações entre aquele ambiente e as pessoas que ali convivem, ou seja, nas relações entre: professor e alunos, alunos e alunos, professor e professores, professor e pais. Percebi que o professor chegou à escola acreditando que conseguiria mudar aqueles alunos, mas seus colegas de trabalho tiram essa esperança e tentam desanimá-lo. Percebi também que em certo momento, a relação professor-aluno ficou mais conturbada ainda. O professor já totalmente estressado com aqueles alunos desordeiros insulta duas garotas às chamando de "vagabundas". A partir desse filme, podemos perceber que talvez a escola esteja muito fechada em si mesma, acreditando que nela só se devem ensinar conteúdos gramaticais, matemáticos, entre outros. É interessante pensarmos que a escola não está fora da sociedade. Assim, é preciso aceitar que as crianças que chegam à escola, trazem consigo problemas, sua própria cultura, trazem realidades diferentes, e a escola precisa lidar com isso. A escola deve dar mecanismos aos alunos, para que eles saibam atuar na sociedade e lidar com seus próprios problemas.
Leidiane Dourado - PIBID UESB - VC
(Re) Leituras do trabalho docente: saberes e fazeres com a linguagem no ensino fundamental
O Projeto PIBID LETRAS – VC define a sua atuação em escolas de ensino fundamental, do município de Vitória da Conquista – BA. Para tanto, selecionou três escolas pertencentes à rede municipal de ensino, localizadas na área urbana. Cada escola constitui-se em um núcleo do projeto, apresentando especificidades que serão diagnosticadas e analisadas, por meio de aplicação de técnicas de investigação e análise de dados de natureza etnográfica. As ações do Projeto contemplam a formação de licenciandos para o domínio de métodos e técnicas de ensino das práticas de leitura e escrita, a formação para a pesquisa dos licenciandos envolvidos e dos professores-supervisores e a produção de recursos e materiais de ensino, culminando com a realização de oficinas, organização de espaços formativos na escola e a publicação de resultados. O subprojeto da área de Letras desenvolve-se em três fases: fase diagnóstica, envolvendo ações de observação da escola e de aulas dos professores docentes da escola, a fim de se conhecer impactos de aspectos infra-estruturais, pedagógicos, da gestão e da interação professor e aluno no percurso de aprendizagem. A segunda fase constitui-se na aplicação e realização das práticas de ensino de leitura, escrita e análise lingüística, priorizando-se o texto e as tecnologias da mídia, como o cinema e outros gêneros textuais, na abordagem dos conteúdos didáticos com os alunos das escolas selecionadas. A terceira fase envolve avaliação e sistematização de produtos para o ensino e aprendizagem de língua portuguesa, que poderão ser disponibilizados para as instituições de ensino, bem como a produção de textos científicos pela equipe integrante do Projeto. O Projeto conta como recursos humanos: um coordenador, três professores da rede municipal de ensino e 15 licenciandos do curso de Letras. As atividades integram o grupo de Pesquisa Linguagem e Educação, cadastrado institucionalmente na Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia e no Diretório de Pesquisa do CNPq/UESB. O Projeto (Re) Leituras do trabalho docente: saberes e fazeres com a linguagem no ensino fundamental, busca impactar qualitativamente no desempenho e aprendizagem da leitura e escrita de estudantes do ensino fundamental, na formação do futuro profissional de Língua Portuguesa e no fortalecimento da articulação Universidade/Educação Básica.
Assinar:
Postagens (Atom)